Pular para o conteúdo principal

"Esperança", por Glorinha de Lion

(Glorinha de Lion, poderosa, numa das fotos que mais gostava de si mesma)

Esperança

"Muitas vezes caminhei no escuro das noites, achando que ela havia me abandonado...Olhava os caminhos, áridos, secos onde o vento levantava a poeira que me entrava pelos olhos, lacrimejantes de cansaço e solidão.


Muitas vezes caminhei de mãos vazias, achando que nada valia a pena, que a batalha seria inútil. Achava tudo feio, triste e sem graça. Nem mesmo as flores aqui e ali, ou as borboletas voando me davam alguma alegria.


A batalha tem sido dura. Nesse mundo não se mata um leão por dia, pois nem há mais leões, pobres coitados, todos mortos pela ganância e a estupidez humanas. A batalha mais feroz é da gente conosco mesmos. A guerra é guerreada todos os dias na luta pelos sonhos, pelas realizações pessoais, para manter nossa integridade, para que nossa essência não seja conspurcada pela sujidade do mundo.


No entanto, nos momentos mais tristes, quando estamos prestes a desistir de tudo, quando o poço onde nos encontramos parece tão profundo e sem ar, eis que ela vem. Sai de seu esconderijo, ali, à vista de todos e nos dá as mãos. Nos salva de nós mesmos, não nos deixa sucumbir.


Já a vislumbrei muitas vezes. Ela já me estendeu seus braços diáfanos, incontáveis, inumeráveis vezes. Porque então, acho que dessa vez ela não virá? Porque não confiar que ela não falhará?


Sim, ela caminhará ao meu lado, mesmo que eu não a veja. Ela me guiará mesmo que eu não sinta as suas mãos. Ela me fará continuar escrevendo e tentando e muitas vezes, ao cair, me levantará. Ainda que sua presença seja invisível, ainda que seus passos sejam silenciosos, ela sussurrará em meus ouvidos: Você pode. Você já conseguiu. Conseguirá novamente.


E eis que ao segurar a caneta para autografar meu livro, erguerei meus olhos e a verei sorrindo, me olhando, em meio ao buquê de flores que recebi de presente.


Ela, a ESPERANÇA."

Gloria Chimenti Leão


***

Gente querida, dói escrever este post. E como escrever, descrever o que se sente quando a vida simplesmente vem e muda tudo que planejamos e sonhamos é algo impossível.... E como pensar na dor da família da querida Glorinha de Lion (Café com Bolo e Poesia), a Gloríssima! e tentar me colocar no lugar deles é muito difícil... decidi por republicar este post, originalmente escrito por Glorinha para participar no concurso de textos aqui do Borboleta ano passado.

Logo depois de vir a São Paulo, naquele bate papo, em que a mulher pequenina, cheia de poder me confrontou e falou de si mesma com desenvoltura... a mim e umas dezenas de mulheres sobre seu livro, sobre a menopausa... Logo depois Glorinha descobriu um câncer raro... Em respeito à família e Glorinha todas nós nos silenciamos... Foi um tempo de muita oração, de pensar muito nela imaginando-a cheia de vida e de esperar que qualquer hora ela simplesmente voltasse a bombardear seu blog com alguma idéia colorida.

Não foi o que aconteceu... Não sei se foi assim que a vida escolheu. Tão infelizmente...

Ainda ontem, pensando nela e desejando saber como ela estava, reli um post meu sobre o azul e lembrei daquelas blogagens coletivas criadas por Glorinha... Me lembro de como me inspirei nas falas dela... nas cores sugeridas, nas poesias e criei... criei... criei.... Aquela coisa intensa dentro dela era viva! Era uma inquietação! Era uma ânsia de compreender a vida!

Glorinha partiu e, se inicialmente a gente sente um vazio tão grande, uma dor de saber que não se tem o controle do minuto seguinte, nem para onde exatamente a vida segue eu quero ficar como ela, com a certeza de que, para além de nossos esforços existe muito mais, fico com a mesma certeza de Glorinha... a de que há, para além de tudo, Esperança... Simplesmente porque não tenho como explicar que aquela mulher continue tão viva na gente e no mundo!

...

"Somnia, estou escrevendo pra vc e as lágrimas escorrem em meu rosto! Quanta sensibilidade! Que beleza de tela! Trazendo tantos sentimentos à tona, deixando cores, imagens e palavras ecoarem em vc e dando forma a elas em pinceladas mágicas...Traduziu seus sentimentos, os meus, e acho que de todas as amigas da blogosfera nessa sua Violeta Paz....se transformou nela, engoliu-a e vomitou poesia....Somnia, vc fez meu dia mais feliz com sua arte e com tanta beleza e sentimento! Obrigada! Obrigada! Obrigada! Grande beijo!", Glorinha. 


Comentários

Françoise disse…
Difícil acreditar. Também fui ler novamente os posts do colorindo a vida que fui levada s participar através do seu post amarelo. Ainda que de maneira meio torta pela confusão inicial mas geliz por ter conquistado uma amigada e através dela muitas outras. Triste, muito triste...deixa saudades e muito da sua pessoa em nós. Um bjo a vc Sonildes querida.
Françoise disse…
Qtos erros. Escrevi do cel.... sorry!
Lúcia Soares disse…
Inacreditável. Pensar nela, saber que não mais escreverá, é muito triste. Não a conheci pessoalmente mas entendi (ou pensei entender) muita coisa de sua alma inquieta.
Que exista uma outra vida e nela ela possa viver plenemente, intensamente, mais uma vez.
Irene Alves disse…
Quero dizer-lhe que me comoveu
profundamente este seu post.
Também em dois dos meus blogues
fiz uma simples homenagem.
Sinto o que você sente.
Um grande beijinho
irene
Roselia Bezerra disse…
Olá, querida
Sim... foi lamentável!!!
Passei pra desejar-lhe um período pascal cheio de ricas bênçãos e vejo a linda homenagem que lhe fez merecidamente...
Conhecê-la pessoalmente foi um privilégio... valeu a pena o sacrifício de viajar 3h...
I-nes-que-cí-vel!!!
Bjm de paz e pesar

Postagens mais visitadas deste blog

"Ja, må hon leva!" Sim! Ela pode viver!

(Versão popular do parabéns a você sueco em festinha infantil tipicamente sueca) Molerada! Vocês quase não comentam, mas quando o fazem é para deixar recados chiquérrimos e inteligentes como esses aí do último post! Demais! Adorei as reflexões, saber como cada uma vive diferente suas diferentes fases! Responderei com o devido cuidado mais tarde... Tô podre e preciso ir para a cama porque Marinacota tomou vacina ontem e não dormiu nada a noite. Por ora queria deixar essa canção pela qual sou louca, uma versão do "Vie gratuliere", o parabéns a você sueco. Essa versão é bem mais popular (eu adorava cantá-la em nossas comemorações lá!) e a recebi pelo facebook de minha querida e adorável amiga Jéssica quem vive lá em Malmoeee city, minha antiga morada. Como boa canção popular sueca, esta também tem bebida no meio, porque se tem duas coisas as quais os suecos amam mais que bebida são: 1. fazer versão de música e 2. fazer versão de música colocando uma letra sobre bebida nela. Nest

"Em algum lugar sobre o arco íris..."

(I srael Kamakawiwo'ole) Eu e Renato estávamos, há pouco, olhando um programa sueco qualquer que trazia como tema de fundo uma das canções mais lindas que já ouvi até hoje. Tenho-a aqui comigo num cd que minha amiga Janete me deu e que eu sempre páro para ouvir.  Entretanto, só hoje, depois de ouvir pela TV sueca, tive a curiosidade de buscar alguma informação sobre o cantor e a letra completa etc. Para minha surpresa, o dono de uma das vozes mais lindas que tenho entre todos os meus cds, não tinha necessariamente a "cara" que eu imaginava.  Gigante, em muitos sentidos, o havaiano, e não americano como eu pensava, Bradda Israel Kamakawiwo'ole , põe todos os estereótipos por terra. Depois de ler sobre sua história de vida por alguns minutos, ouvindo " Somewhere over the rainbow ", é impossível (para mim foi) não se apaixonar também pela figura de IZ.  A vida tem de muitas coisas e a música é algo magnífico, porque, quando meu encantamento por essa música come

O que você vê nesta obra? "Língua com padrão suntuoso", de Adriana Varejão

("Língua com padrão suntuoso", Adriana Varejão, óleo sobre tela e alumínio, 200 x 170 x 57cm) Antes de começar este post só quero lhe pedir que não faça as buscas nos links apresentados, sobre a artista e sua obra, antes de concluir esta leitura e observar atentamente a obra. Combinado? ... Consegui, hoje, uma manhã cultural só para mim e fui visitar a 30a. Bienal de Arte de São Paulo , que estará aberta ao público até 09 de dezembro e tem entrada gratuita. Já preparei um post para falar sobre minhas impressões sobre a Bienal que, aos meus olhos, é "Poesia do cotidiano" e o publicarei na próxima semana. De quebra, passei pelo MAM (Museu de Arte Moderna), o qual fica ao lado do prédio da Bienal e da OCA (projetados por Oscar Niemeyer), passeio que apenas pela arquitetura já vale demais a pena - e tive mais uma daquelas experiências dificilmente explicáveis. Há algum tempo eu esperava para ver uma obra de Adriana Varejão ao vivo e nem imaginava que